sexta-feira, 3 de abril de 2015

Crônica de um cotidiano doente


O pneu do carro furou, fui trocar. Só que, ao invés dos simples dez reais que geralmente custa o remendo, tive que comprar dois pneus novos, com orçamento saindo cinquenta vezes mais do que imaginei inicialmente. Os moleques borracheiros perguntaram se não queria que alinhasse também, por 35 reais. Disse que não sabia. Eles me perguntaram se estava puxando, disse que trepidava, mas acreditava que era por causa do pneu que estava furado. Então, ele me garantiu que não precisaria de alinhar, deu a palavra dele de que era por causa do pneu, mas casso eu sentisse o carro puxando, eu voltaria e eles alinhavam. Vi que ele não estava fazendo corpo mole, pelo contrário, e então fui na dele. Só que, ao efetivar o pagamento, a proprietária perguntava se eu não tinha medo de andar com pneus novos sem alinhar, que se eu passasse no buraco iria acontecer isso, aquilo, ainda mais com filhos, enfim, colocou um terror tremendo, ficou uns cinco a dez minutos infernizando, literalmente, minhas ideias, com ironias e sarcasmos bem sorrateiros. Vale ressaltar que ela participa do batismo na igreja. Mantive a postura e não fiz o alinhamento. Contudo, fiquei o resto do dia com as falas dela na minha cabeça. Talvez saísse mais barato ter feito o alinhamento, psicologicamente falando, mas, evitei fazer algo que acreditava (junto com o borracheiro que fez todo o serviço) ser desnecessário. Agora, se as relações no comércio são deste tipo, com comerciantes empurrando e aterrorizando por causa de trinta reais, estou certo de que as pessoas estão muito doentes.

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