quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Ir embora


De repente eu possa ficar.

Talvez possa ficar por mais alguns minutos.

Quem sabe eu possa ficar aqui

antes de ir embora.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Caracu



DEUS criou o mundo.
E o mudo também.

Numa folha qualquer desenhou uma maçã vermelha.

DEUS também criou Isaac Newton.

Isaac Newton viu na simples queda de uma maçã algo extraordinário.

Não se sabe se chutou a maçã depois ou a comeu.

Eu, por minha vez, nunca vi uma macieira, mas, diferentemente de Isaac, eu vi meu mundo cair, assim como a Maysa.

Com o meu mundo, caíram todos as sombras e os demônios que o povoavam.

DEUS continuou após meu mundo cair, como se não tivesse nada mais para fazer.



Mas o engraçado é que boa parte de meus medos permaneceram comigo também.


O engraçado que a culpa permaneceu, e com ela uma sensação demasiada ruim, sem ter consciência de exatamente em função de que seria.


O engraçado é que minha coragem havia ido embora junto com o caracu.


O engraçado é que eu ainda me sentia desgraçado.

Quase nunca


Nunca fui fã de Wanessa Camargo.

Há alguns anos, estava de carona e ouvi na rádio uma música dela cujo refrão suplicava: "metade de mim te ama e te adora e outra metade de mim precisa ir embora".


Mas o refrão não meramente entrou por um ouvido e saiu pelo outro.


Esse trecho adentrou as profundezas de meu intelecto e neste fez sua morada,

pois,

simplesmente aborda de forma exuberante e maliciosa ao mesmo tempo e extremamente clara a natureza do bicho homem, isto é, a contradição, a ambiguidade, o senso de não completude.





Eu nem sempre tive pensamentos contraditórios.

Quase nunca.

Diogo Mainardi, um profissional da opinião, uma vez escreveu que já se pegou dando opiniões contraditórias sobre o mesmo assunto.

É mais ou menos isso.

A gente nunca tem certeza de tudo ou nada.

A gente inventa tudo ou nada.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Em frações


Você precisa disso? - disse ela.

Algumas frações de segundo se passaram como séculos para ele, que mantinha durante todo esse momento seu olho em riste.

Passaram-se outras frações de segundo, sem que ele pudesse esboçar qualquer tipo de reação.

Sua sombrancelha franziu.

Curvou seu pescoço para a direita, de modo que seu rosto quase fitava o dela.

Mas ainda assim podia vê-la.

Ainda assim podia falar com ela.

Ainda assim podia explicar o que estava fazendo.

Mas preferiu continuar calado, por que não sabia responder a pergunta dela.

Levante

 Na sua palavra eu cuspo o A é minha Lei