sexta-feira, 22 de abril de 2011

Para quem não gosta de peixe


Feriado de páscoa é sempre aquela coisa: todo mundo se empaturrando de torta de bacalhau. Só não é bom para quem não gosta de peixe.

Lembro que, quando mais jovem, com frequência passávamos o feriado na casa de minha avó em Guaçuí.

Bela e gostosa Guaçuí.

Chegávamos lá e era sempre a mesma coisa: a gente não podia comer nenhum tiragostinho porque não podia comer carne. E mais: sequer podíamos beber! Não é alcoolismo, mas sempre chegávamos lá com aquela felicidade, aquela euforia, revendo os primos, reunindo a galera, doidos para tomar umas cervejinhas com o pessoal e comer uns torresminhos... e a gente não podia!

Tínhamos que entrar também no sofrimento.

sábado, 16 de abril de 2011

Injeção auto-aplicável


Tenho percebido que minha culpa tende a aumentar a cada dia que passa.

É como se injetassem em mim uma certa quanidade de culpa fabricada.

Parece um tratamento que, todo dia, devo ir à farmácia e pedir que me injetem determinada quantidade de culpa; e digamos que, todo ano, essa dose aumenta.

Nesse caso o problema não é nem o valor da culpa, é a quantidade.

Ou melhor, sua progressão.

Parece um tratamento para a selvageria; a cada passo, desde que nascemos, somos domesticados e definidos em uma quantidade pequena de comportamentos.

A gente nasce selvagem.

O nosso pensamento é embotado e compactado.

E a gente é alimentado com culpa.

Ironicamente, isso faz sobreviver, mas como um urubu que se alimenta de restos podres de carne.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Desejo de identidade


Minha identidade é um quarto enfumaçado. Minha identidade é algo do qual eu não queira ser. É estar sempre mais acolá do que aqui.

Minha identidade são posturas profundas. São posturas envergonhadas que refletem e sugerem o despreparo. O desespero. Sugerem que não se possa sair.

Minha identidade é um incenso queimando. Um incenso de morango, furta da qual se encixa na espécie das ficoeaes rubros que, até pela proteína cibinina presente em sua coloração avermelhada, é últil no combate a células cancerígenas.

Essas células têm o desejo de destruir outras células saudáveis e aniquilálas. É algo natural. É um desejo de morte da natureza.

O câncer está em seu pensamento. Quando sua identidade é o desejo de câncer.

terça-feira, 5 de abril de 2011

El cuerno del rinoceronte


A natureza é mesmo irônica: certa vez nasceu um rineceronte, aparentemente como qualquer outro.

Contudo, em sua adolescência, notou que era diferente de seus colegas: todos estavam com os chifres nascendo, menos ele.

Começou a ser taxado pelos colegas.

O que o incomodava não era o bullying que sofria.

No lugar do chifre, nasceu um calo. Então toda vez que ele ia dar uma chifrada, como por instinto, ele sentia uma dor aguda, pois batia rispidamente com seu calo.

Porém, sempre repetia esse comportamento, e sempre dava com o calo em riste.

Não conseguia sobrepujar seus instintos animais.

Levante

 Na sua palavra eu cuspo o A é minha Lei