quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Sorrisos e espinhos


Sem perceber desenho gotas de sangue ruminantes que avermelham o papel reciclado que serve de suporte para o mouse do meu computador.

[um sorriso maldoso e sagaz
com dentes alargados]


gotas vermelhas quase cobrem metade do papel

[às vezes vejo espinhos
encravados em sorrisos alargados]

[ eu acho que vejo ]


existe uma tendência a ter sorrisos e espinhos.

domingo, 24 de outubro de 2010

Aventureiros de merda




Num desses filmes americanos bestas vejo um casal cujo carro quebrou durante a viagem. Ficaram no meio do nada com o carro quebrado, e encontraram uma daquelas oficinas mecânicas bem tradicionais em que o borracheiro se encontra todo sujo, sem um dos dentes e fumando aquele cigarrinho, o qual sequer o tira da boca.

Me lembrei que recentemente ficamos em situação semelhante quando estávamos a cerca de 1000 km de casa e o carro foi guinchado para um pátio do DER. Assim, o processo de retirada incluiu:

- aquisicionar o documento em Vitória/ES;

- enviar este mesmo para o pátio onde estava o carro, em Jacareí/SP, juntamente com uma procuração, visto que o carro está em nome do meu pai;
- apresentar a documentação no pátio;

- pegar os boletos bancários e ir até uma agência do Bradesco no centro para quitar os débitos; retornar ao pátio e enfim retirar o veículo.

Isso durou cerca de quatro dias.

Durante isso, hospedamo-nos em uma pousada (seria melhor dizer pensão - que também funciona como espaço para eventos) atrás de um posto de gasolina e também de uma espécie de oficinas e loja de peças para caminhões. Na beira da Via Dutra.

Isso me faz pensar que existem oportunidades de trabalho até sobre essas pessoas que encontram certo tipo de desavenças na estrada, como furar um pneu - sempre tem uma borracharia precária mas tem que cobrará três vezes mais mas que irá dar uma ajuda até o destino final.

Sempre tem um restaurante porco para te servir.

Sempre tem uma pousada suja ou com banheiro cheirando a bosta.

Assim como as moscas que sobrevoam sobre as fezes do cachorro, dando preferência àquelas com vermes mais frescos.

Para essas moscas, "o melhor" é uma bela merda fedorenta fresquinha e com vermes ainda cambaleantes.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Encontros...


... e momentos de angústia.

Dor de cabeça.

Bons encontros.

Má alimentação.

Cocô por cima de bosta.

Dinheiro para beber o quanto pudesse.

Foram momentos diversos, até que enfim fomos para casa, num não menos exaustivo regresso.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Loucura X doença mental


Cuidado não é tratamento.

Com essa fala inciei meu discurso para uma turma de 1º período de enfermagem.

Outra discussão recorrente é sobre a necessidade de problematizar nossa relação com a loucura, que por muito tempo foi objeto de encarceramento.

Em determinado momento a psiquiatria obteve o domínio sobre a verdade da loucura, e assim a transformou em uma doença.

Isolou os loucos em manicômios.

Observou-os confinados.

Classificou os sintomas observados nos loucos enclausurados.

Diagnosticaram, através da totalidade sintomática, os loucos reclusos em categorias diagnósticas.

Buscaram uma cura.

Hoje vemos que esse modo de assistência psiquiátrica apenas produziu adoecimento através de violência iatrogênica.



Mas loucura não é doença da mente nem de lugar nenhum.



Loucura não é doença mental, a qual necessite de tratamento visando uma cura.



O louco, principalmente o institucionalizado, precisa sim de cuidado, atenção e até certo ponto acompanhamento.


Mas não de um tratamento ou um cura.

Isso não existe.


Ficaríamos uma tarde inteira discutindo se loucura é ou não é uma doença mental, mas é com prudência que me limito a ressaltar que basta conhecer o contexto histórico em relação ao tema, e veremos que a loucura já foi compreedida sobre diversos vieses e de variadas formas.


A visão do saber psiquiátrico tradicional - que isolou os loucos de seu convívio social - é apenas mais uma, não-cidadã, hostil e desqualificadora.

Eu não trabalho com essa noção de doença mental.

domingo, 17 de outubro de 2010

NÁUFRAGO


Little sister can´t you find another way? No more living life behind a shadow?


Show do Queens Of The Stone Age no SWU 2010.

Sem palavras para descrever.

Qualquer artifício de linguagem,

principalmente a gramatical,

reduziria amplamente a complexidade e antagonismo de sentimentos e sentidos e afetos envolvidos e implicados naqueles momentos.

Foi "o" show, ao lado do pixies que, mesmo com um repertório que não era o meu favorito, pixies é pixies.

Porém, perdi minha máquina digital durante o show do QOTSA.

Pensei rapidamente em procurar a máquina, mas seria impossível, pois havia milhares de pessoas ali, e mal dava para se locomover; nesse momento começou a bater uma frustração e leve desespero, mas então pensei em simplesmente me virar para o palco e curtir o show, pois não era prudente que eu perdesse, além da máquina, também o show.

Mas eu repetiria tudo.

Mesmo com o carro guinchado a 1000 km de casa.

Mesmo com a dor de cabeça durante os dois shows.

Mesmo com o rosto tostado pelo sol.

Mesmo com os lábios tostados pelo frio.

Mas com dinheiro para beber o quanto pudesse.

E com dinheiro para ir embora de táxi quando quisesse.

Com saúde para poder me dar ao luxo de ir e voltar nessa bela e alegre frustração que é a vida de todo náufrago.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

SHOW DO PIXIES


Se eu morrer vão publicar lá na A TRIBUNA uma três por quatro minha com certeza num semblante feio quando não ridículo.

Por que será que toda três por quatro é considerada feia pelo dono, mas no entanto a gente nunca tenta até que saia uma foto que a gente considere boa.

Morte é um assunto banido das conversas em geral, no meio acadêmico, religioso ou familiar.

Não é um assunto explorado.

Eu mesmo escrevendo isso aqui já me dá um sentimento aversivo e penso em deletar tudo e escrever sobre outra coisa, ou senão parar de escrever.

Mas falar de morte não, é um assunto totalmente desagradável.

Definitivamente falar de morte não dá.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

EMBALAGEM


Um gole de café desce quente pelo meu esôfago, e já não o sinto no estômago.

É assim todas as manhãs.

É como escrever com estilo e negligenciar o conteúdo.

É como se eu perdesse meu estilo.

É como se eu perdesse meu teto.

Meu teto caiu.

Teto e chão estão no mesmo plano.

Aparentemente um caos, mas o que se observa não termina aí.

O caos vem abraçado a uma dose quente de estabilidade e ordem.

É como numa gangorra, os dois brincam feito duas meninas de trancinhas subindo e descendo com o movimento retilíneo do aparelho.

Na roda da existência.

É como se vida etrena fosse aqui na terra, de novo e de novo diferenciando-se no mesmo.

É como duas meninas de trancinhas que brincaqm de lepoteca, a baterem suas mãos em uma cronologia que segue o compasso de uma melodia cantada por elas.

O embate de suas palmas seguem a música de seus lábios.

Não há preocupação no que virá a acontecer depois da brincadeira, apenas o cuidado de acertar ou não a palma da outra colega.

sábado, 2 de outubro de 2010

Em meus dedos


Bebo uma xícara de café cheiona, sábado, de barriga vazia.

Não comi nada ainda não.

Acordei e fui logo catar o cocô da Amy.

O foda é que dei um mole lá e enconstei no cocô dela.

Ela está ainda em período de "quarentena", eliminando os vermes.

Que são muitos, aliás.

Fui logo lavando com sabão de côco.

Depois álcool líquido.

Depois álcool em gel.

Devo ter lavado de novo com sabão de côco.

Depois acho que passei álcool novamente.

Fui tomar banho.

Antes disso tudo tinha jogado umas partidas de playstation 2.

Depois disso tudo vim para o computador.

E me pus a pensar na aula de segunda.

Um texto sobre Nietzsche.

Ele pergunta:

Sob que condições o homem inventou para si os juízos de valor "bom" e "mau"? E que valor têm eles? Obstruíram ou promoveram até agora o crescimento do homem? São indício de miséria, empobrecimento, degeneração da vida? Ou, ao contrário, revela-se neles a plenitude, a força, a vontade da vida, sua coragem, sua certeza, seu futuro?

Uma outra chícara de café eu bebo.

Levante

 Na sua palavra eu cuspo o A é minha Lei