sábado, 25 de julho de 2015

Renascer em Fristo



Ontem estava na calçada de uma padaria esperando um móvel chegar. Em determinado momento, um jovem aparece vendendo biscoitos, com camisa e crachá dessas casas de recuperação para ex drogados. Disse que não poderia ajudá-lo comprando, mas em seguida perguntei sobre essa casa de recuperação. Me contou sua história: disse que chegou a vender buchas e apanhou de uns caras, inclusive me mostrou as cicatrizes na cabeça. Aproveitei para perguntar suas opiniões sobre assuntos que me interesso, como a redução de danos. Perguntei se uma pessoa poderia continuar a usar drogas e fazer o "tratamento" para parar, e ele disse com veemência que não, em seguida trazendo o discurso religioso, que deus isso, deus aquilo. Ele tinha todo aquele discurso religioso, mas às vezes fazia certo sentido. As vezes isso me assustava, mas eu notava que fazia sentido para ele. Percebi que ele ficava mexendo com a boca, como se estivesse com boca seca. Lá pelas tantas expliquei que não compraria seus biscoitos porque estava sem dinheiro no momento, mas poderia lhe oferecer uma garrafa de água e biscoito (!) da padaria, depois eu daria um jeito para pagar. Ele aceitou. Foi escolher o biscoito enquanto eu aguardava; voltou para me perguntar se poderia escolher um de quatro reais e eu confirmei. Quando fui pagar, ele havia escolhido, além dos biscoitos, dois daqueles preparos para mistura de suco artificial, da marca "tang" e "Dona Wilma", algo assim, mas daqueles bem cheios de aditivos. Imaginei que ele pensou coletivamente, isto é, ia levar o suco para o centro de recuperação. Enfim, gastei dez reais nessa brincadeira, coincidentemente o preço do pacote com três pacotinhos de biscoito. Ele me contou muita coisa interessante, das quais fica impossível relatar aqui. Uma delas é que estava fazendo um propósito, diante da minha pergunta se ele iria almoçar, e assim justificando que não almoçaria, só comeria às sete da noite. Expliquei que isso poderia lhe causar algum problema a longo prazo. Eu perguntei se lá havia psicólogo, e ele respondeu que o psicólogo deles era "Deus". Em certo momento de seu relato, ele me disse que uma mulher passou por ele dizendo que aquilo tudo era uma farsa, aquela coisa de doce, e tal. Bem, não vou entrar em detalhes sobre as intenções do pastor e da missionária que comandam a casa de recuperação, porque não os conheço, quem quiser pode entrar no site e conhecer, como eu fiz. Depois fiquei pensando se ele não havia inventado toda aquela história triste para tirar algum dinheiro das pessoas. Bem, por fim, concluí: quem dera ele fosse um farsante, mas tudo o que ouvi era a realidade.

Na contradição, aonde o estado falha cresce a bactéria que suga e alimenta.

 http://www.renascerong.com.br/historia.html

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