quinta-feira, 11 de junho de 2015

Louco ou drogado?

Hoje, eu andava tranquilamente em frente ao Centrocor, ali ao lado do Shopping Vitória, e buscava avistar uma faixa de pedestre para atravessar a avenida. Um cara estava bem a minha frente, indo na mesma direção, de casaco azul, mochilas e ouvia fones de ouvido. Do nada, ele faz um movimento em minha direção, e no instante em que tudo ocorre, tudo muito rápido e inesperado, cheguei brevemente a imaginar que seria algum conhecido vindo me cumprimentar. Mas, quando olho, percebo que seu movimento é no sentido de me acertar um soco. Seu punho ficou a centímetros da minha cara, mas não acertou, no entanto, ele chegou a me encostar no braço, não me lembro bem como. Olhei em seus olhos, era um cara branco, parecia ter uns 29 anos, talvez um pouco mais alto do que eu. Nessa hora, ele retornava para seu movimento de prosseguir com a caminhada, mas eu o ouvi dizer, com semblante que, de certo modo, esboçava alguma fúria: "me respeita, rapaz", e em seguida fez um sinal de que havia algo em sua cintura. Com medo, eu fiquei o observando e algumas pessoas que estavam perto sequer perceberam sua atitude, quando perguntei a um casal que passava no momento se "vocês viram aquilo, vocês viram aquilo?", eles ficaram me olhando como se não fosse com eles. Enfim, no susto, na imediaticidade do momento, eu liguei para o 190, pois, o cara seguiu atravessando aquelas ruas movimentadas sem esperar o sinal fechar, caminhando em direção ao shopping vitória. A oficial que me atendeu no ciodes, diante do meu relato de que um cara havia tentado me golpear, logo pergunta se ele "tinha problemas mentais", ou se era um "drogado". Foi aí que eu comecei a entender a situação. Ela me perguntou se ele havia me acertado, disse que não, mas estava assustado com o fato ocorrido (e com o fato do cara estar surtado e andando por ali, desferindo golpes e passando sem esperar o sinal fechar). Novamente, ela me questiona se é um louco ou drogado, com a minha resposta de que acreditava se tratar da primeira opção, ela então afirma: "então aí é com o Samu". Enfim, desliguei e continuei meu percurso, bem atento com o cara de azul solto por ali.

Ironias a parte, eu vim pensando nisso, no lugar desse cara. Ele disse: "me respeita, rapaz". Porra, justamente eu, que ganho a vida lutando pelo direito dessa galera circular pelo espaço urbano.

Muita coisa esse fato me fará pensar, desde o golpe até a policial falando que seria caso para o Samu.
Drogado, seria da polícia.
Louco, aí é do Samu.

Veja bem: mesmo quase tendo apanhado e poderia estar bem machucado agora, eu continuo a defender que o lugar para a loucura pode e deve ser o espaço público.

cabe a nós, enquanto profissionais da saúde, entender e acolher esse cara de azul. Cabe a nós encontrar maneiras de compreender a vida dele e possibilitar um ambiente, um aparato em que ele possa se sustentar.

Nós falhamos, assim como o soco dele.


Eu meio que me arrependi de ter ligado para a polícia, mas é entendível, digamos assim. Foi um susto, foi no susto, e para não perder a rima, de um cara no surto. Foi isso que pude entender quando a ficha foi caindo: era um cara surtado, nem precisava ter ligado para o 190, pensei. Mas aí já era.

Mas essas coisas acontecem para nos fazer pensar, entender a complexidade do cotidiano, e com isso tudo, pelo menos pude ouvir o relato da oficial sobre essa situação: "aí é pro Samu".

Pro Samu, ok, acho perfeito isso. Sem ironias, é por aí mesmo.

Por outro lado, nossa missão também deve ser a de possibilitar que o drogado seja, igualmente, um caso para o Samu.

A fala dele ficou em minha cabeça, juntamente com seu olhar serenamente furioso que aos poucos retornava a cabeça para frente. Ele não me olhou nos olhos.

De fato, essa fala: "me respeita, rapaz", parece ser de alguém que vem, costumeiramente, sendo desrespeitado...



















Nenhum comentário:

Pegar uma cachow

Projeto Caparaó   Rural – “sem rede?” Ações de saúde mental no campo das políticas de álcool e outras drogas LEI 10.216/2001 LEI...